sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Que festa adorável

No final do mês passado eu fiz aniversário e pela primeira vez, recebi familiares e amigos para uma festa organizada pela minha filha caçula, Gisele. Somos muito unidos e a surpresa me deixou muito emocionado. Para despistar, disseram que se tratava de uma festinha da escola do meu neto, Eduardo, e ao abrir o portão, me deparei com aquelas pessoas, tão amadas, juntas, para me abraçar e me desejar felicidades. Receber meus irmãos, Sílvio e Darci, meus sobrinhos com suas esposas e filhos, minhas cunhadas Zinha e Maria José, minha nora Dulce e a mãe dela, Kátia, além de meus filhos, netos e genros (e até meu ex-genro, Humberto, que me trata como sogro até hoje), foi uma alegria sem fim.
Comemorar mais um ano de vida é agradecer todos os dias pelas alegrias e conquistas, por menores que elas sejam. Não importam os sonhos que não realizamos ou dos planos que não foram concretizados. Nossos dias não podem valer mais do que os problemas diários. Contas a pagar, tarefas a realizar e compromissos banais tomam demais o nosso tempo e não deveriam valer como momentos a serem computados pelo relógio. São instantes, como o da festa surpresa, que nos fazem pessoas felizes e mostram o quanto somos respeitados e amados.
Não me lembro de ter tido outro aniversário tão interessante quanto este. A família reunida, os amigos  as delícias culinárias fizeram daquele sábado um dia muito especial, que vou guardar para sempre. Tenho aqui muita gratidão pelos filhos, que se reuniram para agradar esse velho pai, que tantas vezes não foi tão bom quanto deveria, mas que ama a cada um de forma única. Á todos os meus parentes e amigos que saíram de suas casas para me dar um abraço, e dizer tantas palavras lindas naquela roda maravilhosa, em que rezamos e agradeci, com emoção tanto carinho. Ao meu irmão, Darci, que num discurso emocionante, me arrancou lágrimas pelas lembranças do que passamos quando há tantos anos, viemos para a cidade grande. Só tenho a agradecer. Obrigado, gente. Fiquei realmente muito lisonjeado com a homenagem e a presença de todos. Que Deus os ilumine, hoje e sempre.

Grande abraço a todos.

Ah, meu sobrinho Wladimir, sentimos a sua falta.


Paulo José (tio Paulo, vovô Paulo, Pulino).

sábado, 23 de setembro de 2017

A árvore do chiclete

Quando eu era criança, Divinópolis era uma cidade que tinha um cheiro próprio, exalado pelas árvores que ladeavam as ruas do centro. Elas ficavam também em restaurantes, no fundo das casas e do jardim de infância onde minha filha, Carla, estudava. E foi ela quem transmitiu a história que inventei da tal árvore. Como os frutos têm o miolo rosa, disse às crianças que se tratava de goma para fazer chiclete. E assim ficou, num folclore entre nós, que causava desejo de comer a tal planta, como várias vezes pude ver no alpendre de casa. Minhas meninas, muito pequenas, tentavam, com os dentinhos de leite, afiados, sentir o gosto daquelas castanhas, que nada mais são do que frutos selvagens. 
A vida é assim mesmo. Simples, mas complexa ao mesmo tempo, como nossas personalidades. Somos um ser criativo, que vamos inventando descobertas onde não existem. Uma simples bobagem pode se transformar em histórias fantásticas, para a explicação de mundo para as crianças ou mesmo para nós, adultos. Meus filhos cresceram com essa idéia de fantasia que passo à eles, porque sou assim. Costumo ver com poesia em cada dia da minha vida, e agradecer pela beleza das flores, cheias de mistérios e perfume.
Minha filha, Carla, junto à árvore que enfeitava Divinópolis
Como todo pai-inventor-cientista, criei outras estratégias para explicar fatores naturais, que eu jamais soube de onde vinham. O único problema é que quando as crianças iam para a escola, comentavam com os colegas e professoras, que muitas vezes as ridicularizavam com suas explicações acadêmicas, tirando toda a alegria das minhas invenções. Constantemente elas chegavam em casa, decepcionadas, em prantos, envergonhadas, porque a explicação sobre os fenômenos, era diferente da minha. Em contrapartida, eu apenas ria e compartilhava com minha esposa, que muito séria, me barrava pelas besteiras transmitidas aos nossos descendentes.
Eu havia me esquecido da árvore de Divinópolis, que fazia chicletes, até que numa viagem a uma pousada, vimos uma espécie num canteiro, enfeitando o local. Carla, sempre a mais observadora, e a mais atenta aos detalhes, foi quem viu a planta, em meio a outras, e fez questão de registrar aquele momento. Eu carregava meu neto, filho dela, recém-nascido, e foi um encontro de gerações, que mostrava que o passado nunca é esquecido e o presente depende dele para sermos felizes. Hoje, o Eduardo está com oito anos e adora minhas histórias inventadas, assim como meus filhos um dia amaram. Percebi que as invenções são a minha vida. E é por isso que as transmito com tanta alegria. Se os adultos já não conseguem ouvi-las por causa da falta de tempo, conto, então, para os netos, meus fiéis ouvintes. Quanto as árvores, de Divinópolis, se tornaram escassas e é raro encontrá-las pela cidade, como antigamente. Talvez elas tenham percebido que já não há muito deixaram de produzir a goma doce que as crianças tanto amam: parou de fazer chiclete!

Beijos a todos,

Paulo José.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

E os homens pioraram...

Eu não consigo entender os homens, tão diferentes do tempo em que eu era rapaz. Hoje não se percebe o respeito que muitos sentem pelas mulheres, sobretudo quando saem com elas pela primeira vez. Ao invés de conquistá-las, com carinho e romantismo, só pensam em levá-las para a cama, sem se interessar pela vida das moças, e entender suas histórias. E, depois da transa, ainda são capazes de abandoná-las, sem a delicadeza de deixá-las em casa, seja à pé ou de carro. Na minha juventude, sair com uma garota era artigo de luxo. Não era fácil convidá-las para um sorvete ou uma sessão de cinema, porque raramente havia aceitação. E, quando isso acontecia, era quase um sinal de compromisso sério. 
Fui muito namorador, mas eu sabia que o casamento seria uma vez só e por isso escolhi bastante a mulher com quem divido há tantos anos a minha vida. Brigas e desentendimentos ao comuns e fazem parte de qualquer relação, mas jamais pensei em divórcio como os casais de hoje, que se casam e se separam diante do primeiro conflito. Não sou a favor das relações obrigatórias por causa de uma certidão, mas friso aqui a facilidade das separações. Hoje, ao menor sinal de traição ou de qualquer incompatibilidade, cada um vai para um lado e segue a vida normalmente.
Vejo, ainda, e infelizmente, que as mulheres cada vez mais são alvo dos homens machistas, que não sabem tratá-las com respeito e dignidade, pois as consideram como objetos de prazer, simplesmente. Esses marmanjos batem, espancam, matam e não são castigados como deveria e por isso, continuam seus abusos. Volto a repetir o velho ditado: "Numa mulher não se bate nem com uma flor". Afinal, elas são delicadas como pétalas e qualquer toque mais grosseiro pode machucá-las. Quando se trata de alma então, a dor é ainda maior. Sou do tempo em que o respeito às mulheres não tinha medidas. Hoje, é a violência que não tem tamanho. Precisamos voltar aos tempos antigos. Ou, pelo menos, à valorização da mulher.



Grande abraço, 


Paulo José, ou Pulino.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Zap, zap, zap!!!

A comunicação mudou muito nos últimos anos, com a popularização da internet e a invenção do celular. As pessoas não mais conversam, ficam o tempo todo conectadas, enviando e recendo vídeos e mensagens e é comum vê-las reunidas, em círculos, cada qual com seu aparelho, alheias ao que se passa em volta. O fenômeno tomou conta de todas as idades, desde os idosos até as crianças. E eu tenho que confessar que tentei resistir, até ganhar de presente um celular, que passou a ser a minha distração enquanto ando de ônibus. É uma delícia assistir clips antigos ou rever novelas do meu tempo num simples toque no Youtube. Essa belezura de aparelho ocupa hoje o meu tempo, que antes era gasto com a leitura de livros e jornais.
Emoticons: tempos modernos do hieróglifo
Quando eu era criança minha casa viva aberta para o recebimento de vizinhos ou visitas inesperadas para um café da tarde ou uma prosa desembestada. Mas, aos pequenos o assunto não era permitido e amedrontados, ficávamos de fora das conversas de gente grande. E ao menor sinal de desobediência, a "surra comia solta". Naquela época, os pais não se importavam de bater nos filhos com o que encontrassem pelo caminho, embora preferissem dar uma boa chinelada ou coça de marmelo. Hoje, além da falta de diálogo, o que mais me indigna é a falta de comando dos pais em relação aos filhos. São os rebentos que comandam a casa, mandam e desmandam em seus desejos. Donas-de-si, elas assistem a tudo e intrometem na conversa dos adultos, com muita propriedade. 
A tecnologia é uma evolução, mas ao que parece, também está nos levando aos métodos de comunicação dos mais antigos. Depois da criação do alfabeto, que substituiu o hieróglifo (desenhos que representavam a fala), o homem está retrocedendo. Nos celulares, os emoticons são exatamente isso, com as carinhos que representam tristeza, raiva, alegria, amor, enquanto outros símbolos dizem em desenhos, o que desejamos quando estamos animados ou com preguiça de conversar. Assim, basta um tinindo que o interlocutor entende que a mensagem foi compreendida. Não sei onde isso vai parar, só sei que as conversas de antigamente, regadas a chá, café, quitantas e queijo Minas estão cada vez mais escassas. Uma pena. Mas, me desculpem, a tendência é piorar

quarta-feira, 5 de julho de 2017

O jardim e as formigas!

As vida não tem mistério e quanto mais a vemos com simplicidade, melhor sua compreensão. Os dias nada se passam com mais leveza quando temos alguma coisa para fazer ou escrever, por exemplo. Quando minhas filhas eram crianças, elas passavam a maior parte do tempo com minha esposa, porque eu trabalhava o dia inteiro, mas ainda assim, minhas noites eram para a caçula, Gisele. Muito pequenina e frágil, brincávamos de mamãe e filhinho, andando pela sala, atrás do sofá, sendo "obrigado" a fingir que estava com fome, que precisava ir à escolinha, etc. Era rotina, não havia como fugir. Ás vezes o noticiário me chamava a atenção, mas eu era logo chamado a cumprir o meu papel de filho da minha filha. E assim a noite se esvaía, me relaxando do trabalho estafante.
Já nos finais de semana eu e as meninas sempre tínhamos um programa para fazer, enquanto minha esposa ficava em casa, organizando o que durante a semana ela não conseguia. Não que nossas filhas fossem bagunceiras, mas a rotina era pesada, com comida e banho nas quatro, além de levá-las à escola e lógico, conversar com as vizinhas Zaíla e Maria Helena, grandes amigas até hoje. Juntas, elas faziam artesanato, trocavam receitas culinárias e dicas no cuidado com as crianças. Muito caprichosa, Sirlene sempre pedia que trouxéssemos para ela, ramos de flores do brejo que, para arrancá-los na beira do rio, virava uma diversão. Aquelas plantas, sem flores, viviam muito e enfeitavam as jarras por todo canto da sala. 
Mas, num destes passeios à pé com minhas filhas, no bairro Bom Pastor, em Divinópolis, a Carla e a Soraia resolveram levar formigas saúvas para casa, enroladas num pedaço de papel que sobrou da embalagem do lanche. Bem acondicionados, os bichinhos foram deixados no quintal assim que chegamos. Cansados, fomos tomar um banho e as meninas dormiram como um anjo. No dia seguinte, acordei com minha mulher xingando. Estava muito irritada com o que acontecera com suas plantas. Formigas saúvas haviam destroçado toda a plantação, deixando pelados os galhos das arvorezinhas. Era tanta formiga que elas pareciam terem saído de um filme de terror. Calado, pedi silêncio também às meninas sobre o que elas haviam trazido do passeio. As maiores ficaram quietas, mas Gisele, com seus dois aninhos, contou o segredo para a mãe: as formigas tinha sido levadas no bolso para procriarem em nossa casa. Foi o bastante para o xingamento começar. 
Depois do episódio, continuamos a passear, mas nunca mais pegamos formigas ou outros insetos para levar para casa. Hoje, passados tantos anos, não vejo mais os pais se divertindo com os filhos e fico triste em saber que o mundo mudou para pior. Mesmo com as broncas da minha esposa, eu ria demais com a descoberta que as meninas faziam. Elas não tinham culpa do estrago no jardim com as formigas, mas me ensinaram que é preciso ás vezes impedir as investidas infantis por causa dos adultos. Talvez eu veja a vida com tanto romantismo que ache graça até mesmo nas plantas comidas pelos insetos. Continuou assim: vendo tudo pelo olhar da poesia. É ele que traz leveza à vida. Não se trata de formigas, mas de experiências, aprendizado, diversão. Tudo o que as crianças amam. E eu também.



Abraços, 

Paulo José

sábado, 1 de julho de 2017

A teoria na prática é outra história!

A prioridade do ser humano é proteger o próprio corpo do frio, da fome e de ser devorado (por animais, no tempo das cavernas, e pelo próprio homem, nos dias de hoje!). E, assim que estas necessidades básicas são atendidas, passamos a buscar outras que promoverão prazer em áreas, como o cérebro e o coração. É nesta fase que vamos em busca de um amor, sexo e diversão. Mas, para um pai de família, sem muitas condições financeiras, o ideal não é matar a própria fome, mas a dos filhos e da esposa, como aconteceu comigo nos anos 70, quando vim para a capital mineira. Sem trabalho em Divinópolis, deixei lá minha família para tentar a sorte em outra cidade. Não deu muito certo porque só conseguia serviços temporários de marcenaria, morei em barracos precários e vivia solitário, pensando o tempo todo nas mulheres na minha vida.
Passeio, em família, num museu de BH
Sem a minha proteção e com muitas saudades, decidi buscá-las para assim,  dividirmos as angústias da pobreza. Não foi fácil para elas também. Minhas filhas eram muito pequenas e minha esposa não trabalhava. Com a família reunida as dificuldades se amplificaram. Passamos fome e frio, dormimos mal e não havia diversão. Aquilo não era vida. Eu ainda era muito jovem e já com tanta preocupação no cuidado com a família que formei tão cedo. Mas, é na prática que as teorias se esvaem. Minha vontade de  matar a fome se tornou secundária para dar lugar à inanição por amor. Com minhas mulheres ao meu lado eu me sentia mais seguro para tentar a sorte, ou seja, com o coração preenchido, aí sim eu poderia me preocupar com o estômago.
Hoje, quatro décadas depois, não podemos colher muitos louros desta caminhada e não somos exemplo de família perfeita, mas somos unidos. A fome, o frio e as dificuldades adversas nos uniram neste mundo sem dono. Meus filhos hoje estão formados (tive dois meninos, já em BH), minha esposa continua do lar e estou aposentado. Tive muitos sonhos e planos para mim, mas não deram certo. Talvez essas provações tenham me mostrado que a vida é simples demais. Não tenho diplomas, não conheci o mundo em viagens mirabolantes e não fiquei rico. Se eu fosse um rapaz com as necessidades básicas garantidas, com certeza eu teria alçado os voos que me prometi. Mas, não havia escolha. Acordar e ter o que comer era mais importante do que estudar. No entanto, se eu pudesse voltar atrás, se me dessem uma borracha gigante, a primeira coisa que eu faria seria apagar tudo e recomeçar a vida do zero. E assim, com uma bula, seria fácil chegar ao topo. Só não sei se seria tão feliz!


Abraços,

Paulo

domingo, 18 de junho de 2017

Anjos não têm nome!

Todo sábado levanto cedo, tomo um banho e vou para a casa da minha filha mais nova, Gisele, para tomarmos o café da manhã juntos. Em seguida, lá pelas dez e meia a Carla, minha segunda filha, me busca para almoçarmos e passearmos. Mas na semana passada um imprevisto da natureza impediu-me de realizar estas tarefas tão simples e prazerosas ao lado das minhas meninas. Uma tempestade caiu inesperadamente e tive que me esconder numa marquise numa praça do bairro. Sem celular, não tive como avisar às minhas filhas o que acontecia e o tempo foi passando, até que fui chamado por uma mulher, que me viu ali, ensopado, do alto de uma varanda. Muito educada, me convidou para me esconder da chuva em sua casa e aceitei o convite. Não sou de incomodar e fiquei do lado de dentro do portão, mas ela me chamou para entrar e me ofereceu um café com biscoitos de queijo que foram os mais deliciosos que já comi na vida. Enquanto lanchávamos, conversamos muito e descobrimos muitas coincidências, como o fato de seu pai também ser marceneiro e ela ser professora, como a minha filha, Carla. 
Assim que a chuva passou, fui embora e resolvi voltar para a minha casa, onde tomaria um banho quente e assistiria TV até a noite. No ônibus, eu agradeci a Deus por ter colocado aquele anjo em minha vida e fiquei filosofando sobre solidariedade e gratidão. No dia seguinte, contei às minhas filhas o porquê de eu não ter me encontrado com elas, que curiosas, quiseram conhecer a mulher que me abrigou naquele dia. Voltamos ao local em que me escondi da chuva, procuramos o endereço daquela senhora mas, não encontramos. Talvez ela não exista - pensei - e se trata mesmo de um anjo que foi enviado dos céus para me ajudar. Até agora estou impressionado com tanta caridade.
Eu sempre acreditei na bondade das pessoas porque fui criado num ambiente em que a ajuda ao próximo significa uma colaboração à nós mesmos, pois nunca saberemos quando vamos precisar dos outros. Naquele sábado eu precisa de alguém mas jamais poderia imaginar que um ato tão generoso pudesse vir de um estranho. Aquela mulher representa toda a bondade humana que um ser pode ofertar e por isso tenho ainda mais motivos para acreditar em Deus. Eu poderia ter pego uma pneumonia, ou voltado para casa faminto, não fosse aquele gesto tão maravilhoso. Ser solidário é isso: ajudar sem pedir nada em troca.Que grande atitude, que exemplo. Quanto agradecimento eu tenho por aquela senhora e à Deus, por tê-la colocado na minha vida naquele dia! E que Ele lhe pague, em dobro, todo o gesto de compaixão comigo. Como não sei o seu nome, rezo todas as noites para aquela senhora, a quem chamo de Anjo!


Paulo José.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

O amor deixado para escanteio!

Sempre gostei de ter muitas amizades, e minha residência vivia cheia de gente, amigos dos meus filhos e filhas. Quando passamos a morar em uma casa com terraço, era ali que todos os sábados as garotas se reuniam para tomar sol, sem serem incomodadas por mim ou pela minha esposa. Depois, elas almoçavam, tomavam um banho e dormiam, para à noite, sairem para as "baladas". Nunca me importei que minhas filhas paquerassem, e jamais tive ciúmes dos namorados que arrumavam, porque sou muito liberal, e sabia, com minha experiência, que amor de juventude costuma ser passageiro. 
Mas, como todo pai, desejei que todas se casassem, na igreja, e de preferência, que tivessem filhos depois que curtissem a vida. E assim foi. Também não esperava que se separassem, mas o destino pertence a cada pessoa e duas delas se divorciaram e hoje moram sozinhas com seus filhos únicos. Interessante é que minhas meninas não seguiram a ordem de idade para se casarem, sendo a primeira da lista, a mais nova, seguida pela mais velha, depois a terceira e por último, a quarta filha. Se estão felizes, sozinhas ou acompanhadas, minha felicidade está garantida. 
Eu acredito muito nos romances, gosto de presentear quem amo e sinto muita falta de carinho dos homens com as mulheres, hoje em dia. No meu tempo era muito diferente. Quando garotos, nosso sonho era ter um emprego e um salário para comprarmos entrada para o cinema e assim, pegar na mão da menina mais linda da rua ou da escola. Aquele escurinho, as vozes dos artistas, as músicas do filme e o coração batendo forte era uma emoção indescritível. Naquela época, nossas vestimentas sequer se igualavam à de hoje: nosso cabelo engomado para trás nos deixava com a cara pelada e ressaltava nossos defeitos. As calças de tergal, feitas em casa, escoradas por suspensórios, deixava nossos corpos horríveis, repuxados atrás e na frente, parecendo roupas de palhaço. Nos pés, a mesma botina que usávamos a semana inteira no trabalho.
Eu e minha esposa, Sirlene, mostrando a casa onde ela morou na juventude
Quisera eu, nos anos 50, ter uma motoca para levar uma garota na minha garupa. E ter dinheiro para levá-la a um restaurante e lhe ofertar rosas cor-de-rosa. e, num beijo longo, dizer que ela estava lindíssima! Eu a chamaria de Rainha, depois a carregaria nos braços e a rodava, para demonstrar o meu amor gigante. Sim, sou muito romântico e sonhador, e é isso o que mantém a relação amorosa, tão estranha nos tempos modernos. Hoje, Dia dos Namorados, vou presentear minha esposa, mesmo após 50 anos de casados. Já não somos grudados como antes, mas um entende o outro e isso é o bastante. Somos do tempo em que os casais falavam com os olhos e se entendiam com a alma. Hoje, percebo que o corpo é quem fala mais alto. E ao menor sinal de raiva, casamentos são desfeitos e namorados (as) são trocados (as). 
Cada vez mais entendo que o romance se modifica numa rapidez inalcançável aos nossos olhos. Não temos mais a preocupação de agradar o outro, porque pensamos muito em nós mesmos. As relações deixaram de ser amorosas para serem, principalmente, sexuais e ninguém tem paciência para a côrte, indo logo para o ataque, sem se preocupar se os corações serão ou não destruídos com o fim da paquera. Tenho a impressão de que o tempo tem que correr e as pessoas são simples objetos, que podem ser trocados ao menor sinal de defeito, assim como os brinquedos ou aparelhos domésticos. 
Na minha época era diferente, muito diferente. Valorizávamos cada ser humano em sua totalidade. Às mulheres, tão difíceis, dávamos todo o crédito quanto mais demorado o beijo fosse. Ir para a cama só depois do casamento e olhe lá. Também não tínhamos o costume de fazer com as esposas e o que fazíamos com as mulheres da rua. Hoje tudo é mais fácil e acho até interessante esta facilidade em se transar com a namorada, mas não é tão romântico. Dava uma suadeira encontrar uma musa e ainda mais difícil era achar uma esposa. Por causa desta dificuldade, amávamos a escolhida com todo o nosso respeito e vigor. Os tempos realmente mudaram, um lado para melhor, outro para o pior. Mas, tudo pode ser, desde que o romantismo não fique esquecido. E, sinceramente, acho que o amor não está mais em voga. Foi deixado para escanteio. No entanto, cada homem pode fazer diferente. Basta respeitar sua companheira como uma dádiva do Céu. Assim, cada dia ao lado dela será uma bênção. 

Feliz dia dos Namorados,


Paulo José.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Ah, essas mulheres!!

Domingo passado foi comemorado o Dia das Mães e nada mais justo do que eu deixar aqui as minhas homenagens à estas mulheres que fazem tanta diferença nas nossas vidas. São tantas atribuições em seu dia-a-dia, que minha mente não consegue acompanhar: almoço para a família, mamadeira para os filhos, trocas de fraudas ou de roupas para as crianças, arrumar a casa, passar e lavar roupas e ainda.. conversar ao telefone, bater um bolo, e trabalhar fora. Ufa! Nós, homens, não temos esta capacidade de diversificação nas tarefas. Fazemos cada coisa de uma vez e demoramos horas em uma mesma atividade. Já reparou como ficamos o dia inteiro consertando ou lavando o carro? Já percebeu que separamos o sábado, ou o domingo, apenas para nós, sem se importarmos com o resto?
Não se trata de egoísmo masculino, mas de não conseguirmos mesmo executar tanta coisa ao mesmo tempo. Ainda fico impressionado como uma mulher consegue mexer a comida nas quatro trempes do fogão e ainda observar um assado no forno. E cada qual com sua colher separada. Ela ainda prova um pouquinho de cada um, tempera daqui e dali, enquanto o prepara o suco do filho até que o almoço fique pronto. Por mim, eu faria um mexidão e tá tudo certo. Arroz, ovo, feijão e carne, tudo misturado. É mais rápido e fica uma delícia. Mas, as mulheres não gostam desta facilidade. Elas precisam de detalhes. Tudo porque são observadoras, reparam em tudo, exigem o melhor, desde o sabor dos alimentos, à sua apresentação à mesa. Lindas demais.
Se as mulheres são tão fantásticas, Deus ainda as possibilitou darem à luz. Só elas sabem o que significa gerar uma pessoa dentro de si. Mesmo que sejamos pais participativos, acompanhemos cada detalhe da gravidez, não saberemos, jamais, o que é ter  o peso da barriga, os enjôos, os desejos mais estranhos, o corpo todo revirado por causa dos hormônios, e um bebê que se mexe em seu ventre. Bonito demais para ser verdade. A maternidade, a meu ver, é a melhor fase da mulher, em que ela se modifica totalmente, em seus gostos e aparência física, em prol de outra pessoa. Não há amor maior, porque o filho faz parte dela, de suas entranhas, de sua alma. Ela gerou, ela protege, a mulher mata e morre pelo seu rebento!
Minha família é de maioria feminina e acompanhei, de perto, minha esposa e filhas grávidas e cuidando depois de seus filhos, dando à eles proteção e alimento. Sempre me coloquei à disposição para ajudá-las na criação das crianças, mas sem mim elas são ainda melhores, porque somente as mães entendem o choro de seus filhos, quando é de dor ou de falta de atenção. E vi outras mulheres da família, também maravilhosas com seus filhinhos amados, se tornando leoas, prontas a defender suas crias. Maria José, Margarida e Zinha, cunhadas dedicadas quase que exclusivamente aos filhos. Não posso me esquecer da satisfação quando soube, na época, que me dariam sobrinhos. E que maravilhoso saber que todos se deram bem na vida, hoje têm família, trabalho e também são pais e mães fantásticos. Resultado de uma criação primorosa. Minhas sobrinhas Diane e Daniella, lindas por fora e por dentro, me impressionam também pela dedicação aos filhinhos queridos.
E o que dizer da minha mãezinha, que há tempo se foi para o outro mundo? Tanta dedicação, tanto amor, tanto ensinamento. Brava, mas ao mesmo tempo tão carinhosa, dava a entender que cada filho era seu preferido e colocava um apelido carinhoso em cada um de nós. Sua comida e seu afeto não podem ser substituídos. E eu, que tantas vezes fiquei do seu lado quando ela precisou, sinto muita falta de não ouvir mais sua voz, de sentir o seu cheiro, de elogiá-la pelo vestido novo (sempre o mesmo, de domingo). Sinto um aperto em não tê-la comigo, me fazendo um cafuné quando ía visitá-la. Em seu colo eu adormecia enquanto ela me acalantava, dizendo sobre a saudade enorme que tinha de mim. 
Minha mãe se foi quando poderia ter ficado mais tempo conosco. Me senti desolado, mesmo já adulto, com família formada, meu coração se despedaçou e ficou um buraco jamais fechado. Achei injustiça, confesso. Deus não poderiam levar para Si, nossas mães, nos deixando órfãos de um sentimento que nunca é substituído, por mais amor que tenhamos. Dona Maria Augusta, minha mãezinha, quanta falta a senhora me faz. Até suas broncas eu gostaria de ouvir novamente. Tenho ainda guardado alguns botões de seus vestidos de chita. Me trazem um pouco de você e me levam para perto daquela mulher que mais amei na vida. Quanto amor, quanta saudade da minha querida mamãe. Onde a senhora estiver, saiba que meu amor continua e nunca se apagará. À todas as mães do mundo, meus sinceros elogios. Vocês são demais! Mesmo que errem na educação de seus filhos, acreditem: eles jamais as esquecerão.


Beijos carinhosos,

Vovô Paulo José

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Jacaré estragado! Urgh!!

Eu comecei a trabalhar ainda na infância, ajudando o meu pai na marcenaria, fazendo e consertando móveis, sem receber nada por isso. Todo o dinheiro arrecadado com o serviço era utilizado em nossa casa para pagar as despesas, que já naquela época eram tão altas. Nossa família era grande e muitas bocas deveriam ser alimentadas, por isso eu e meus irmãos acabamos vivenciando tantas dificuldades financeiras. Já na juventude, mal tínhamos dinheiro para um cinema com as meninas, e para passar o tempo íamos fazer o footing na igreja matriz de Divinópolis, indo e voltando, trocando olhares com as meninas mais bonitas da cidade. Raramente a paquera dava lucros maiores do que isso, mas há algumas décadas, o flerte era o que existia de mais ousado!
E eu fui muito namorador. Com aparência de alemão - loiro e olhos azuis - eu conquistava muitas garotas e cheguei a sair com algumas delas. E nem as primas escapavam, embora eu não as desrespeitasse. Me lembro de uma, morena, sobrinha distante do meu pai, que se engraçou por mim. Ela permitiu que eu avançasse o sinal um pouco, mas ficou só nisso, porque ela era virgem e eu não queria me casar, mas apenas curtir, como dizem hoje em dia. Ela então tomou raiva e alguns anos depois se casou com um homem bem mais velho do que ela, e não sei se foi feliz. 
Neste teretetê, acabamos nos decepcionando quando ficamos perto da menina com quem paqueramos na praça, sendo que geralmente elas andavam em duplas ou em grupos. Certa vez me engracei por uma beldade, baixinha, mas com curvas de deixar um rapaz louco de paixão. Após sorrisos e olhares a convidei para assistir um filme e ela aceitou. Marcamos um encontro em frente ao cinema e não deixei perceber as moedas que contei para pagar as entradas. Tímida, ela apenas sorria para mim e fazia uma carinha de inocente, mas que conhece as artimanhas da sedução, eu enlouqueci e tudo o que eu sonhava era lhe beijar e isso demorou. Até que o lanterninha nos deixou em paz e me arrisquei a lhe beijar. Foi quando eu arrependi enormemente. A menina tinha um hálito horrível, um cheiro de jacaré estragado, e ao menor sinal de encostar os seus lábios aos meus, ela me agarrou tanto que custei a sair. Sem ar, comecei a fazer sinal para ver se alguém me salvava daquela situação.Rapidamente o fiscal (lanterninha) chegou, bateu em minha perna e nos mandou sair, que ali era lugar de respeito! Me senti aliviado.
Do lado de fora do cinema, a garota se sentiu constrangida e vergonhosa por ter sido tão atirada e me pediu desculpas. Só fiz um sinal de que estava tudo bem e fomos andando em direção à casa dela. No meio do caminho ela conversava, conversava e conversava. Eu ficava calado, mudo, mal acreditando naquele encontro fatídico. O negócio ficou ainda pior quando ela deixou claro que seu pai era um chefe do Tiro de Guerra e muito ciumento, que faria qualquer homem se casar com ela, ao menor sinal de abuso (no caso, beijo já era perigoso)! Fingi não temer e a deixei no portão. Eu estava louco para me livrar daquela moça que além do mau-hálito, poderia complicar a minha juventude com um compromisso que eu não queria. Quando me despedi agradecendo a tarde ao seu lado, a garota se virou e tentou me beijar novamente, uma ousadia naqueles anos 50. Mas o que me arrepiava era seu bafo desagradável. Sem saída, fingi que escorreguei e me apoiei numa pedra. Minha calça (a única que eu tinha, de tergal!) rasgou no joelho e teve que ser inutilizada. Fiquei chateado, mas pelo menos me safei daquele beijo. E prometi que da próxima vez, só sairia com outra garota, após uma longa conversa, para me certificar de seu hálito!


Abraços 

Paulo José

Isso sim é solidariedade!



Num sábado chuvoso, me desencontrei com a minha filha e resolvi, então, dar um passeio na praça, até que ela voltasse para casa, mas rapidamente os pingos de chuva se transformaram numa tempestade e me escondi numa marquise. O frio tomava conta dos meus braços, quando ouvi um chamado de uma mulher, me convidando para me proteger em sua casa. Educadamente, agradeci e fiquei na varanda, mas ela insistiu para tomarmos um café com pão de queijo e pastéis. Sem entender direito, mas não querendo magoá-la, aceitei o lanche, que estava delicioso.
Durante o temporal, ficamos conversando e em poucos minutos aquela mulher me contou sobre sua vida, da infância à vida atual. As coincidências entre mim e ela eram grandes, como a minha profissão de marceneiro, que também era de seu pai, e a idade dela com a de uma das minhas filhas. Mas, apesar de o papo estar excelente, eu quis embora porque fiquei meio constrangido por estar sendo tão bem tratado por alguém que não me conhecia e que me colocou para dentro de sua casa.
Após o café e muita conversa, decidi que realmente era hora da despedida. Ao sair, aquela mulher me deu um abraço caloroso, como quem mata as saudades de um grande amigo e me desejou boa sorte na vida. Fiquei impressionado com tanta gentileza, no mundo de hoje, em que o medo domina as pessoas e as faz mais geladas do que antigamente. Me surpreendeu aquela situação e saí daquela casa impecável, com a sensação de que os anjos aparecem em nossas vidas de uma hora para outra, sem aviso. Eu estava com frio, ensopado, faminto, quando fui chamado por uma desconhecida que se colocou no meu lugar, numa empatia que há muitos eu não via. Isso é a verdadeira solidariedade, que não exige do outro, favores ou gratidão eterna. Trata-se de uma gentileza e amabilidade sem tamanho. Um sentimento que vem de dentro para fora, sem publicidade, sem interesses. São pessoas assim que nos fazem pensar que a vida vale a pena. 

Paulo José (tio Paulo, vovô Paulo, Pulino)

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Bôdas de um amor infinito!

Na semana passada, minha filha caçula, Gisele, comemorou 25 anos de casamento com o Fernando, um genro querido, que desde que entrou para a família, meio despretensiosamente, agradou pela inteligência e segurança na fala, sendo ainda um garoto, na época. Eu, como todo pai zeloso, desconfiei no início de que algo sairia daquela relação com dois jovens apaixonados que não se largavam. Meu ciúme ficava embutido, quando chegava do serviço e os via, muito abraçados, muito grudados, no alpendre da nossa casa. De vez em quando, com o tempo, ele passou a dormir nos finais de semana, dividindo o mesmo quarto com a Gisele, sob meus olhares desconfiados. Quando tentava impedir, eu era repreendido pela minha esposa, Sirlene: - Eles estão em camas separadas, para de bobagem!
Com minha esposa, Sirlene
Sempre acreditei que os namoros das minhas filhas não vingariam porque na verdade eu preferia que elas ficassem em casa, ao invés de se casarem. O casamento é muito bom, mas ter os rebentos embaixo das nossas asas é sempre mais reconfortante. Eu e minha esposa nunca impedimos que as meninas namorassem, como fazem tantos pais e mães. Sabíamos que elas tinham consciência de seus atos e que uma relação não é brincadeira, principalmente quando envolvem filhos. E, curiosamente, aquele namorico inicial, da Gisele com o Fernando foi muito sólido e acaba de completar Bôdas de Prata. 
A data merecia mesmo uma comemoração e a festa na casa deles foi muito linda, com convidados de honra, como a família do meu irmão, Darci. Suas duas filhas lindas, Daniella e Daiana enfeitaram a casa, ainda mais animada pela alegria da minha cunhada, Maria José, que dançou, conversou e riu bastante. Minhas únicas sobrinhas, charmosas, carinhosas e simpáticas, enfeitaram a pista de dança, com seus sorrisos largos e perfeitos. Pude conversar com o Darci e esta foi a minha maior alegria, pois falamos um pouco do passado, relembrando nossos tempos de infância e juventude e o assunto merece continuação em outros encontros maravilhosos com aquele. Seu genro, Aureliano, os netos Kaiky e Guilherme e um casal de amigos, ajudou a abrilhantar a comemoração. 
Ficar tantos anos juntos, numa relação com filhos não é tarefa fácil, mas para a Gisele e o Fernando isso não é sacrifício, mas um amor estampado no rosto dos dois, desde que se conheceram, nos idos anos 80. Eles estavam lindos nas Bôdas, assim como estiveram no casamento, cuja filmagem era passada numa tela de TV, ao mesmo tempo em que transcorria a bênção do padre. Poder assistir aquele vídeo me fez rever toda a trajetória deste amor que perdura, a cada dia, ainda com mais intensidade. Quando se conheceram, eu os vigiava (na verdade, fingia, porque também conheço as artimanhas dos romances) e pude concluir que eu estava errado ao imaginar que aquela relação seria apenas um fogo de palha. Hoje, ao avaliar a família que construíram com três filhos e uma vida de parceria, fico muito feliz em saber que eu estava errado. Sim, porque os pais também erram. Imaginei que um namoro tão tórrido como aquele não duraria muito. E durou. Lá se vão 25 anos! Que venham outros 25, 45, 60. Sejam felizes, meus filhos, Gisele e Fernando e meus netos, Leonardo, Lucas e Fernanda, minha princesinha! São os votos deste velho pai e avô.

Um beijo 

Paulo José.

sábado, 29 de abril de 2017

As amizades em nossa vida!

Ao longo da vida vamos mudando nossa relação com as pessoas. Na infância, gostamos de ter amigos, mas brigamos à toa, ficamos de mal e nos perdoamos com uma facilidade incrível. Já a adolescência é a fase em que gostamos de andar em turmas e para sermos aceitos no grupo, somos capazes de ultrapassar a barreira que separa a insanidade da consciência. É o momento mais perigoso, pois não temos limites, ao mesmo tempo em que estamos nos descobrindo como pessoal, desenvolvendo a nossa personalidade. E, na fase adulta, com tantas metas e compromissos, mal temos tempo para amizades, principalmente quando somos casados e qualquer minuto é destinado aos filhos e ao cônjuge.
Com meu irmão, Darci
Eu tive muitos amigos, mas hoje sou econômico neste quesito. Raramente recebo pessoas em casa porque eu não paro quieto, mas adoro conversar e divido estes momentos deliciosos, principalmente quando encontro pessoas em festas ou reuniões familiares. Como a maioria dos meus amigos da juventude também estão com outros interesses (profissionais, pessoais, etc), me comporto então, como um animal que se prende ao outro para aproveitar dos alimentos, seja por preguiça ou pela própria natureza. Desta forma, me aproveitei dos amigos das minhas filhas para tê-los também como tal. Exemplos disso são as meninas Cínthia, Lourdes e Andréia, amigas da Gisele. Divertidas, alegres e muito simpáticas, nos dá o prazer de um café da tarde com bolachas e chá quente (com adoçante, porque elas precisam manter a forma física). 
Com meu irmão Sílvio e Aparecida
Meu grande amigo, João Márcio também faz parte da minha lista, engrossada pelos irmãos Darci e Sílvio. Todos têm  filhos ou netos maravilhosos, que dispensam à mim, um carinho muito grande, agradecido e muito bem-vindo. Dos meus tempos de jovem, tive muitas amizades, que ficaram esquecidas, mas de vez em quando elas aparecem, como certa vez, em Divinópolis, numa festa pública. A minha filha mais nova, Gisele, estava com um ano de idade quando se perdeu de mim e da minha esposa, no meio de uma apresentação de orquestra na praça principal da cidade. Depois de muito procurar, já cansado, vejo um colega do Tiro de Guerra (atual Exército), que veio em minha direção. Indignado, ele se aproximou, me cumprimentou e reclamou do pai da criança que ele encontrara, sozinha, numa rua. Estava perdida e em prantos. Depois de ouvir seu discurso carregado de raiva, me identifiquei como o pai da menina. Só então ele me entregou a minha filha e me pediu muitas desculpas pelo comentário desagradável. Naquele momento, eu não pensava em outra coisa a não ser agradecê-lo por ter encontrado a Gisele. Nunca mais o vi, nunca fui à casa dele tomar uma cerveja ou um café. Se fomos amigos um dia, com aquela observação, me senti ruim e não tive coragem de aceitar seu convite para uma visita!


Grande abraço, 

Paulo José




quarta-feira, 26 de abril de 2017

Meu velho pai!



A figura paterna, para um criança, significa mais do que proteção, exemplo e admiração. Para as meninas, o pai é um misto de beleza e segurança, enquanto para os garotos, ele é a verdadeira personificação dos heróis, poderosos, fortes e capazes de resolver todo tipo de problema. O meu pai, foi na minha vida, tudo isso e muito mais. Além da aparência física, éramos parecidos também nas atitudes e nos gostos, além da alma poética. Foi com ele que aprendi a contar histórias fantásticas para meus filhos e netos e os segredos da marcenaria, que foi minha profissão até me aposentar, há alguns anos. Não era algo que desejei para a minha vida, mas não havia a opção da escolha e sim do mandonismo. Meu desejo era ser médico, mas além das condições financeiras inviáveis para os estudos, meu pai não aceitava que um filho lhe traísse em suas decisões. E, como bom menino, eu o obedeci. E me dei mal. Não fui feliz como marceneiro e me arrependo de não ter enfrentado o meu pai. Eu poderia ter seguido os meus anseios de rapaz cheios de sonhos, mas fui pouco corajoso.
Quando são os adultos que tiram as escolhas dos filhos, impedem que sejam autônomos e criam uma sensação de abandono. Foi o que senti. Porém, meus sonhos profissionais foram logo ocupados por outros, pessoais. Acabei me casando cedo e rapidamente tive muitos filhos e é para eles que eu trabalhava de sol a sol, incansavelmente. E, quando tudo ficou muito difícil em Divinópolis, me mudei para Belo Horizonte, trabalhei também em Ipatinga, interior do Estado, e em Brasília, capital do Pais. Longe da família, o vazio tomava conta dos meus dias e o que me empurrava, o que servia de alavanca para viver era o sonho de um dia deixar aquilo tudo e ficar apenas em casa, com minhas crianças. E foi esta distância o fato que mais marcou na minha vida.
Em uma de minhas viagens, minha filha Carla, então com três anos, muito falante até hoje, me contou que já tinha aprendido porque o copo dela não se quebrava: - É porque ele é de plástilico, papai! A surpresa da descoberta, em palavra erra, me encantou naquele domingo, poucas horas antes de me despedir para retornar à rotina na cidade grande. A rodoviária me esperava e era no ônibus que as lágrimas corriam do meu rosto, enquanto eu olhava pela janela a noite escura do lado de fora. Minhas quatro meninas estavam em casa com minha esposa, sem mim, e isso não era justo! Eu não estava cumprindo o meu dever de provedor, de cuidador e protetor da minha família, que aprendi com o meu pai. Então, para quê eu servia?
Meu pai, na porta da marcenaria










Em outra visita à minha casa (sim, eu era visitante a cada 15 dias), minha filhinha Josiane, com uns dois anos, começou a colocar no meu bolso, moedas que havia guardado num cofrinho e me lembro que chamei sua atenção várias vezes, enquanto brincávamos no chão da copa, de ladrilhos cor-de-rosa. Ela se divertia, e eu tentava educá-la, mostrando que sua atitude não estava sendo adequada. Muito pequena, ela não me obedecia e por vezes saía correndo de mim. Essa brincadeira de gato-e-rato se deu a tarde toda, até que me despedi para voltar à BH. Só então aprendi que as lições de vida acontecem a toda hora. Naquela noite, me faltou dinheiro para a passagem. Envergonhado, procurei trocados no bolso e não encontrei. Até que achei, no fundo do bolso, várias moedinhas e foram elas que me ajudaram a completar o valor do transporte. Num misto de vergonha e satisfação, contei o dinheiro, paguei e embarquei. E me culpei por não ter sido legal com minha filha, e sem querer, ela havia sido muito lega comigo. Foi a noite que mais chorei. E tomei a decisão de que sairia daquela vida de labuta sem prazer.
Na quinzena seguinte voltei à Divinópolis, peguei a minha família, pus no carro do meu cunhado (na época um Opala amarelo - ele era taxista), juntei alguns objetos como panelas, cobertores e alimentos, e viemos para Belo Horizonte. Passamos alguns meses na casa de parentes e algum tempo depois nos mudamos para um barracão longe do centro. Era da pior qualidade, muito precário. Mas, ali nos instalamos e não fomos felizes, mas sobrevivemos. Não sei como seria a minha vida se eu tivesse tomado outro rumo. Nunca saberemos como seríamos numa tomada de decisão fora do que imaginamos. Mas, percebo que a vida às vezes tem uma linha que já é traçada por Deus e não adianta ir contra isso. Só sei que a vida não tem muitos segredos, há apenas duas opções: ir ou ficar, sim ou não, querer ou não querer. Pronto. O que seremos diante disso, cabe à nós, mas quem manda é o destino. Esse e difícil de mudar.

Beijos,

Paulo José


Tudo era diversão!

A ciência mudou bastante, facilitando bastante a nossa vida. As vacinas ficaram mais acessíveis e os medicamentos se tornaram mais fáceis de ingestão, além de mais baratos. Atualmente, basta uma receita médica para obter a cura de muitas doenças. No meu tempo, eram as ervas, os chás que aliviavam as dores. E, aquele amargor deveria ser engolido de uma só vez, com o nariz tapado para não sentir o gosto horrível de ovo podre. Não raro vomitávamos o medicamento, nos obrigando a repetir a dose.
Meu irmão, Tonho, parceiro em tudo
Como nos dias de hoje, também tínhamos que tomar vermífugo, a cada semestre, mas a situação era pior porque os comprimidos eram muito grandes, grossos, amargos e difíceis de engolir. E, uma vez no estômago, o gosto vinha à boca, subindo pelo esôfago, o dia todo. Após a ingestão do produto, seu efeito causava um reboliço na barriga e então, corríamos para o banheiro (privada, na época) e os vermes eram liberados, vivos, causando uma sensação tão pavorosa que até hoje me intriga como aquela bicharada pode ficar dentro de um corpo humano.  
Lote do que sobrou da nossa casa, em Divinópolis (MG)
Apesar do gosto ruim, eu não tinha dificuldades, como meu irmão Tonho, de tomar o medicamento. Eu tapava o nariz e imaginava que estava chupando bala, que naquele tempo era artigo de luxo. Mas, ele chorava ao ver o medicamento e fazia vômito com o cheiro. Para ajudá-lo, eu ia conversando, fazendo graça, mas por vezes eu causava ainda mais raiva e minha mãe perdia a paciência e enfiava aquele remédio na garganta do meu irmão. Depois, para provocá-lo, eu corria pelo quintal, me escondendo nas árvores, chamando-o de Maricas, numa diversão que resultava em brigas e risadas. Éramos muito unidos e um sempre ajudava o outro. E, assim como toda criança, tudo termina em alegria. O mundo mudou para melhor, há mais comodidade, mais conforto, mais facilidade. Mas, quem poderia imaginar que vermífugos pudessem causar tanta saudade?

Beijos a todos,

Paulo José (Pulino, vovô Paulo, tio Paulo)


domingo, 23 de abril de 2017

Sonhos rasos não se realizam!





Nasci em Divinópolis, há sete décadas e meia e vim para Belo Horizonte, em 1971, em busca de uma vida melhor para minha família. Em casa, deixei esposa com minhas quatro filhas, pequenas, todas elas dependentes da minha renda. Eu ainda estava pagando as prestações do lote quando perdi um emprego numa loja de calçados e não estava conseguindo trabalho como marceneiro. A única solução foi aceitar a proposta de um amigo para conseguir novas oportunidades na cidade grande.Tudo o que levei foi uma bolsa com poucas roupas, alguns cruzeiros (dinheiro da época) e muitos sonhos.
Na capital mineira passei todos os apertos que um homem passa quando procura emprego. Dormi no chão, morei em barracos, me alimentei mal, adoeci, perdi peso. Os serviços que eu arranjava não davam para pagar todas despesas, mas eu mandava dinheiro para minha esposa, mensalmente, através de amigos ou em correspondências lacradas. O que sobrava eu pagava o meu aluguel e apenas uma alimentação por dia, além de um cafezinho simples num bar. Foi um tempo terrível, de momentos que eu sempre desejei esquecer, mas que jamais consegui. Eles aparecem em flashs, em pesadelos quase diários, ou nas conversas descontraídas com minhas filhas, que hoje são adultas e têm suas próprias famílias.
A saudade das minhas meninas era o que mais doía, quando deixei minha casa. Eu não sabia se elas estavam bem, se sentiam a minha falta, se estavam se alimentando ou indo para a escola. Eu as imaginava dormindo sem as histórias que eu contava desde que nasceram e a dor do abandono me fazia chorar. Sim, sou emotivo demais, reconheço. E muito, muito preocupado. Não sou ambicioso, eu pensava. Mas a situação não era de escolha e sim de obrigação de provedor. Minha mulher não trabalhava e apenas o meu salário, baixo, era o sustento do nosso lar.
Depois de um ano em Divinópolis e a saudade pulando no meu peito, resolvi trazer minha família para BH. Inicialmente moramos com familiares e  depois nos mudamos para um barracão, num bairro distante da cidade. O local, precário, me fazia perceber que o esforço não tinha valido a pena. Ter passado tanta privação, sem conseguir um benefício  maior, era o mesmo que rodar em volta do próprio rabo, como fazem os cachorros quando estão nervosos. E eu vivia chateado. Nada valeu a pena, eu pensava. Continuei trabalhando como marceneiro durante muitos anos, até me aposentar, e às vezes não acredito que estou livre daquelas máquinas barulhentas! 

Com minha esposa, em show: chega de trabalho


Se eu pudesse voltar no tempo, eu apagaria tudo com uma borracha gigante e recomeçaria a minha vida em Divinópolis. Eu jamais teria deixado a minha cidade, ao lado da minha família, para tentar novas oportunidades na cidade grande. Eu vim para a capital com os olhos fechados e a mente cheia de imaginações, mas cheguei sem sonhos, porque meus pensamentos eram rasos demais. Eles serviam apenas para me distrair e imaginar que um dia todo aquele sofrimento teria fim. E um sonho para ser ambição deve ser profundo, vir da alma. Quando um trabalho não dá prazer, se torna sofrimento. E foi o que aconteceu comigo. Me casei muito jovem e não tive tempo para devaneios. Cada dia era uma batalha para a sobrevivência. Hoje, tudo o que eu quero é tomar uma café da tarde, tranquilamente, e relembrar os velhos tempos. Só relembrar. Vivê-los, jamais!

Paulo José