terça-feira, 25 de julho de 2017

Zap, zap, zap!!!

A comunicação mudou muito nos últimos anos, com a popularização da internet e a invenção do celular. As pessoas não mais conversam, ficam o tempo todo conectadas, enviando e recendo vídeos e mensagens e é comum vê-las reunidas, em círculos, cada qual com seu aparelho, alheias ao que se passa em volta. O fenômeno tomou conta de todas as idades, desde os idosos até as crianças. E eu tenho que confessar que tentei resistir, até ganhar de presente um celular, que passou a ser a minha distração enquanto ando de ônibus. É uma delícia assistir clips antigos ou rever novelas do meu tempo num simples toque no Youtube. Essa belezura de aparelho ocupa hoje o meu tempo, que antes era gasto com a leitura de livros e jornais.
Emoticons: tempos modernos do hieróglifo
Quando eu era criança minha casa viva aberta para o recebimento de vizinhos ou visitas inesperadas para um café da tarde ou uma prosa desembestada. Mas, aos pequenos o assunto não era permitido e amedrontados, ficávamos de fora das conversas de gente grande. E ao menor sinal de desobediência, a "surra comia solta". Naquela época, os pais não se importavam de bater nos filhos com o que encontrassem pelo caminho, embora preferissem dar uma boa chinelada ou coça de marmelo. Hoje, além da falta de diálogo, o que mais me indigna é a falta de comando dos pais em relação aos filhos. São os rebentos que comandam a casa, mandam e desmandam em seus desejos. Donas-de-si, elas assistem a tudo e intrometem na conversa dos adultos, com muita propriedade. 
A tecnologia é uma evolução, mas ao que parece, também está nos levando aos métodos de comunicação dos mais antigos. Depois da criação do alfabeto, que substituiu o hieróglifo (desenhos que representavam a fala), o homem está retrocedendo. Nos celulares, os emoticons são exatamente isso, com as carinhos que representam tristeza, raiva, alegria, amor, enquanto outros símbolos dizem em desenhos, o que desejamos quando estamos animados ou com preguiça de conversar. Assim, basta um tinindo que o interlocutor entende que a mensagem foi compreendida. Não sei onde isso vai parar, só sei que as conversas de antigamente, regadas a chá, café, quitantas e queijo Minas estão cada vez mais escassas. Uma pena. Mas, me desculpem, a tendência é piorar

quarta-feira, 5 de julho de 2017

O jardim e as formigas!

As vida não tem mistério e quanto mais a vemos com simplicidade, melhor sua compreensão. Os dias nada se passam com mais leveza quando temos alguma coisa para fazer ou escrever, por exemplo. Quando minhas filhas eram crianças, elas passavam a maior parte do tempo com minha esposa, porque eu trabalhava o dia inteiro, mas ainda assim, minhas noites eram para a caçula, Gisele. Muito pequenina e frágil, brincávamos de mamãe e filhinho, andando pela sala, atrás do sofá, sendo "obrigado" a fingir que estava com fome, que precisava ir à escolinha, etc. Era rotina, não havia como fugir. Ás vezes o noticiário me chamava a atenção, mas eu era logo chamado a cumprir o meu papel de filho da minha filha. E assim a noite se esvaía, me relaxando do trabalho estafante.
Já nos finais de semana eu e as meninas sempre tínhamos um programa para fazer, enquanto minha esposa ficava em casa, organizando o que durante a semana ela não conseguia. Não que nossas filhas fossem bagunceiras, mas a rotina era pesada, com comida e banho nas quatro, além de levá-las à escola e lógico, conversar com as vizinhas Zaíla e Maria Helena, grandes amigas até hoje. Juntas, elas faziam artesanato, trocavam receitas culinárias e dicas no cuidado com as crianças. Muito caprichosa, Sirlene sempre pedia que trouxéssemos para ela, ramos de flores do brejo que, para arrancá-los na beira do rio, virava uma diversão. Aquelas plantas, sem flores, viviam muito e enfeitavam as jarras por todo canto da sala. 
Mas, num destes passeios à pé com minhas filhas, no bairro Bom Pastor, em Divinópolis, a Carla e a Soraia resolveram levar formigas saúvas para casa, enroladas num pedaço de papel que sobrou da embalagem do lanche. Bem acondicionados, os bichinhos foram deixados no quintal assim que chegamos. Cansados, fomos tomar um banho e as meninas dormiram como um anjo. No dia seguinte, acordei com minha mulher xingando. Estava muito irritada com o que acontecera com suas plantas. Formigas saúvas haviam destroçado toda a plantação, deixando pelados os galhos das arvorezinhas. Era tanta formiga que elas pareciam terem saído de um filme de terror. Calado, pedi silêncio também às meninas sobre o que elas haviam trazido do passeio. As maiores ficaram quietas, mas Gisele, com seus dois aninhos, contou o segredo para a mãe: as formigas tinha sido levadas no bolso para procriarem em nossa casa. Foi o bastante para o xingamento começar. 
Depois do episódio, continuamos a passear, mas nunca mais pegamos formigas ou outros insetos para levar para casa. Hoje, passados tantos anos, não vejo mais os pais se divertindo com os filhos e fico triste em saber que o mundo mudou para pior. Mesmo com as broncas da minha esposa, eu ria demais com a descoberta que as meninas faziam. Elas não tinham culpa do estrago no jardim com as formigas, mas me ensinaram que é preciso ás vezes impedir as investidas infantis por causa dos adultos. Talvez eu veja a vida com tanto romantismo que ache graça até mesmo nas plantas comidas pelos insetos. Continuou assim: vendo tudo pelo olhar da poesia. É ele que traz leveza à vida. Não se trata de formigas, mas de experiências, aprendizado, diversão. Tudo o que as crianças amam. E eu também.



Abraços, 

Paulo José

sábado, 1 de julho de 2017

A teoria na prática é outra história!

A prioridade do ser humano é proteger o próprio corpo do frio, da fome e de ser devorado (por animais, no tempo das cavernas, e pelo próprio homem, nos dias de hoje!). E, assim que estas necessidades básicas são atendidas, passamos a buscar outras que promoverão prazer em áreas, como o cérebro e o coração. É nesta fase que vamos em busca de um amor, sexo e diversão. Mas, para um pai de família, sem muitas condições financeiras, o ideal não é matar a própria fome, mas a dos filhos e da esposa, como aconteceu comigo nos anos 70, quando vim para a capital mineira. Sem trabalho em Divinópolis, deixei lá minha família para tentar a sorte em outra cidade. Não deu muito certo porque só conseguia serviços temporários de marcenaria, morei em barracos precários e vivia solitário, pensando o tempo todo nas mulheres na minha vida.
Passeio, em família, num museu de BH
Sem a minha proteção e com muitas saudades, decidi buscá-las para assim,  dividirmos as angústias da pobreza. Não foi fácil para elas também. Minhas filhas eram muito pequenas e minha esposa não trabalhava. Com a família reunida as dificuldades se amplificaram. Passamos fome e frio, dormimos mal e não havia diversão. Aquilo não era vida. Eu ainda era muito jovem e já com tanta preocupação no cuidado com a família que formei tão cedo. Mas, é na prática que as teorias se esvaem. Minha vontade de  matar a fome se tornou secundária para dar lugar à inanição por amor. Com minhas mulheres ao meu lado eu me sentia mais seguro para tentar a sorte, ou seja, com o coração preenchido, aí sim eu poderia me preocupar com o estômago.
Hoje, quatro décadas depois, não podemos colher muitos louros desta caminhada e não somos exemplo de família perfeita, mas somos unidos. A fome, o frio e as dificuldades adversas nos uniram neste mundo sem dono. Meus filhos hoje estão formados (tive dois meninos, já em BH), minha esposa continua do lar e estou aposentado. Tive muitos sonhos e planos para mim, mas não deram certo. Talvez essas provações tenham me mostrado que a vida é simples demais. Não tenho diplomas, não conheci o mundo em viagens mirabolantes e não fiquei rico. Se eu fosse um rapaz com as necessidades básicas garantidas, com certeza eu teria alçado os voos que me prometi. Mas, não havia escolha. Acordar e ter o que comer era mais importante do que estudar. No entanto, se eu pudesse voltar atrás, se me dessem uma borracha gigante, a primeira coisa que eu faria seria apagar tudo e recomeçar a vida do zero. E assim, com uma bula, seria fácil chegar ao topo. Só não sei se seria tão feliz!


Abraços,

Paulo