CAUSOS E FOLCLORES


 O "coisa-Ruim"

No "tempo do Onça" (é assim que chamamos o passado), um homem honrado e muito conservador foi vítima de um mau-olhado terrível, tudo porque não costumava rezar. Destemido, ele dizia que estava protegido por Deus, e que as orações eram indispensáveis por que sua amizade com o Criador não precisava de lamúrias. Mas, durante um passeio, no meio do mato, o Demônio apareceu para o homem, perguntou se amava sua mãe e a irmã e se costumava beber e fumar. Rapidamente, mas tremendo, o camarada respondeu que não e então o "Coisa-Ruim" ordenou que se ele as amava, teria coragem de se embriagar. 
Para ludibriar o homem, o Capeta usou de tramoia: "Você está propenso a uma doença que o matará! Mas, eu posso livrá-lo do sofrimento. Basta que você maltrate sua família, ou tem a opção de tomar vinho com álcool". O rapaz, certamente, achou melhor a segunda opção. Então, num gole só, bebeu aquela mistura. Porém o álcool subiu-lhe à cabeça e, pela primeira vez, ele discutiu com sua irmã e em seguida a matou. Fez o mesmo com a mãe, quando ela tentou defender a filha. Desesperado, começou a chorar em cima dos corpos, quando sentiu um cheiro forte de enxofre. Ao levantar o rosto, viu o "coisa Ruim" com seu sorriso sarcástico, chifres enormes, pés de cabrito. Usava uma capa preta e vermelha e tinha os olhos fumegantes. Rapidamente, o homem, que era bom, foi arrastado pelo Demônio, em direção ao inferno!
Até hoje não sei se a história é verdadeira, mas o fato é que nós, crianças na época, não saímos mais à noite durante um bom tempo. O medo tomou conta e nos causava tremor ao menor barulho dos ventos nas árvores. Eu, que costumava passear com o meu pai pelo quintal antes de dormir, passei a não acompanhá-lo. E também não ficava mais sozinho. A qualquer momento eu sentia que Capeta pudesse me pegar e me castigar. O certo é que por um bom tempo fui o mais santo de todos os meninos da minha rua. rá minha mãe foi uma bênção. Prá mim, foi o pior castigo.



Uma água nada benta!

Conta a lenda que um rapaz casou-se com uma moça virgem, muito sapeca. No início, os dois eram como pombinhos, cheios de amor e beijinhos o tempo todo. Não havia desconfiança de traição, porque a mulher era apaixonada por aquele homem e quando ele saía para o trabalho ela sempre perguntava: "Que horas você volta, Benzinho? Mas, quando ele chegava, sempre havia um objeto diferente na casa, que a esposa dizia ser presente do pai dela ao casal. No entanto, numa visita do sogro, este revelou que jamais havia presenteado-os com aqueles bibelôs. O rapaz, então, ficou com a pulga atrás da orelha.
Para tirar a prova de que não estava sendo traído, o marido passou a chegar mais cedo do serviço e se esconder atrás de uma árvore. Não demorou muito e ele viu um homem entrando em sua casa. Veio atênde-lo sua esposa, arrumada, penteada, maquiada e com um cheiro de perfume que exalava pela rua. Rapidamente o marido surpreendeu os dois:
- O que o senhor faz aqui todas as tardes?
Ao que o homem respondeu:
- Vim apenas tomar um gole de água.
Muito irritado, o marido teve uma idéia. Entrou em casa, foi até a cozinha e voltou com um litro de água e mandou o homem tomar tudo!
- Quê isso, moço? Eu não tô com tanta sede assim!
O marido respondeu:
- A partir de hoje, cada vez que o senhor voltar aqui, estarei de prontidão para lhe oferecer esta bebida e para matar sua sede, sempre trarei litros e litros de água. Agora bebe tudo, seu ordinário!
O rapaz tomou toda a água, ficou apavorado e nunca mais apareceu. Já a esposa, coitada, foi colocada para fora de casa pelo marido. Dizem que ela vive perambulando pelas casas, sempre em busca de alguém que lhe ofereça algo para beber!





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