sábado, 17 de fevereiro de 2018

Deixe a Previdência em Paz, presidente!

Eu era criança quando Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil e sou testemunha de que foi um dos melhores homens no poder, até hoje, seguido apenas por Juscelino Kubtscheck, nos anos 60. Os dois fizeram melhorias no país e acabaram mortos, um assassinado, e o outro em acidente automobilístico em circunstâncias misteriosas. O fato é que depois deles, nenhum outro homem ocupou aquele lugar com tanta competência e maestria. Os que vieram depois conseguiram destruir nossas conquistas trabalhistas e sociais. Em 1985 Tancredo Neves foi eleito e morreu logo em seguida. Com ele foram enterradas as promessas de um Brasil melhor. Já com o presidente Lula voltamos a sonhar, mas sua sucessora acabou excluída do cargo. 
A primeira presidenta do Brasil seguiu a linha de seu antecessor. Dilma mante os benefícios sociais que ajudaram a facilitar a vida dos pobres e deu bolsa demais aos brasileiros (bolsa-maternidade, bolsa-escola, bolsa-leite). Não precisava tanto, bastava aumentar o salário dos trabalhadores, e que estes paguem os benefícios que bem lhe aprouver. É verdade que os ricos ficaram mais endinheirados, mas essa é uma questão mais longa, porque todos nós, independente do valor do salário, pagamos os mesmos impostos e taxas, que são altíssimos para um trabalhador que recebe por mês, uma quantia que mal dá para as despesas domésticas. Mas o fato é que a presidenta foi tirada do poder e seu lugar foi ocupado pelo vice, Michel Temer, que a todo custo, quer a reforma da Previdência. O presidente, que está no poder provisoriamente (teremos eleições este ano), garante que a medida irá beneficiar os brasileiros, que tem total condição de se aposentar com 80, 90, 100 anos.
Temer não sabe da nossa rotina. Nós, trabalhadores incansáveis, recebemos um salário de miséria, somos obrigados a pagar do nosso bolso assistência médica porque a oferecida pelo governo, o SUS, muitas vezes é desumana. As filas lotam os corredores e pacientes costumam esperar por mais de um ano, por um simples raio X. E, tanto eu, quanto você ou o próprio presidente, pagamos pelos impostos igualmente. Aliás, nós é quem pagamos a assistência médica dos 'tubarões' no poder, além de todas as mordomias que eles têm para morar em Brasília, para vestir ternos italianos, para viajar com a comitiva e família para o exterior e para terem motorista em carros blindados. 
E então o presidente do meu, do seu, do nosso Brasil manda reformar a Previdência. Ele quer que o trabalhador deixe de se beneficiar com um descanso concedido por Getúlio, nos anos 40. Quer mexer naquilo que tanto lutamos, com paralisações, greves e protestos, numa época em que os brasileiros (adultos e crianças) passavam até 14 horas nas fábricas, sem férias ou finais de semana remunerados. Temer acredita que temos saúde e disposição para trabalhar até a mais alta idade, quando nossos ouvidos já não são tão audíveis, quando nossos músculos não possuem a mesma força da juventude. Idosos, como eu, não aguentam passar o dia todo sentados numa cadeira de escritório ou enxergar peças pequenas de indústrias. Também temos dificuldades em pegar ônibus e atravessar a cidade para chegarmos à empresa as oito da manhã e só sair dez horas depois. Isso, se conseguirmos emprego!
Para o presidente a reforma da previdência é urgente e necessária". Porque? O presidente já enfrentou o transporte público? Paga a mais de impostos, já que recebe um salário 200 vezes maior do que o meu e o seu? A que horas o presidente bate ponto? O que vai dentro da marmita dele? O presidente já enfrentou uma fila do SUS? Já teve que fazer greve por melhorias trabalhistas? Temer já teve o salário descontado porque chegou cinco minutos atrasado na empresa? Ou já ficou sem receber os proventos porque o governador ou o prefeito roubaram todo o dinheiro enquanto estavam no poder, como aconteceu no Rio de Janeiro? 
Em que mundo estamos vivendo? De que trabalhador estamos falando? O presidente quer a reforma da Previdência e nós queremos o fim da roubalheira, da safadeza, da malandragem. Queremos impostos pagos de acordo com o salário de cada um e não queremos pagar mordomias de homens e mulheres no poder, que se aposentam no auge da juventude, com apenas 4 anos de mandato. Desejamos  a reforma do Congresso, da Política, da Justiça, dos benefícios concedidos a todos que ocupam uma cadeira de privilégio nesse país tão pobre. Nós exigimos a reforma, mas para o nosso bem e não contra nós. Não queremos o fim da aposentadoria aos trabalhadores mas o término das diferenças. Afinal, a Constituição do Brasil, em seu artigo 5o diz que somos todos iguais!
Por favor, não desconsiderem a nossa inteligência. Lutamos muito para conseguir poucos benefícios, entre eles a aposentadoria por idade ou por tempo de serviço. Trabalhamos mais de 35 anos, contribuindo com os cofres públicos para, ao final da vida, podermos ao menos ter o direito de viver em paz. Não queremos que mexam conosco, mas a nosso favor. Queremos uma reforma, sim, mas uma bem grande, que faça uma limpeza nessa sujeirada que assola o país. A conta é fácil de ser feita: cada trabalhador que recebe um salário mínimo paga por mês, uns 200 reais à Previdência. Multiplicado por pessoas ativas, o lucro é de bilhões. Está pouco? O que é feito com esse dinheiro, que nós não sabemos?
A previdência é um dos órgãos que mais arrecada no Brasil. Cada trabalhador, em média, desconta de seu salário, cerca de 200 reais por mês para o governo, dinheiro que deveria ser gasto com a saúde, educação, segurança, pesquisas científicas, mas que não é aplicado como deveria. A prova são os corredores lotados de brasileiros em busca de atendimento em hospitais que faltam de tudo, de médicos a remédios. Já nas escolas o serviço é "meia-boca", com falta de vagas em creches e salários baixos aos professores e muitas delas não têm portas, janelas ou materiais pedagógicos. Em relação à segurança, basta assistir aos noticiários para perceber que não policiais em quantidade suficiente, cujos salários também são irrisórios e a violência assola o país. E as pesquisas científicas não contam com o apoio financeiro que merece.
O trabalhador brasileiro leva mais de 35 anos pagando, do seu próprio bolso, para que deputados, senadores, vereadores, tenham mordomias. O desconto é automático, do salário de qualquer funcionário, e o dinheiro vai direto para a conta do governo. E, além da mamata, há os que ainda acreditam quer é pouco e roubam. Pagamos de jatinhos particulares e bolsa-terno, bolsa-apartamento, bolsa-viagens, bolsa-festas. E você, trabalhador braçal, que come de marmita, que tem o salário descontado a cada cinco minutos de atraso, que fica na fila do SUS? Que tipo de benefício recebe, a não ser férias, décimo terceiro e aposentadoria? Quer voltar a trabalhar 14 horas por dia, dentro de empresas cujos patrões mais parecem carrascos? Acha que tem saúde para trabalhar até os 80 anos ou mais?  O presidente acredita que sim. 
Michel Temer quer a reforma da Previdência. Eu quero a reforma do Brasil, com o fim da politicagem, dos abusos e da corrupção. Quero o fim da aposentadoria especial para para os altos cargos, exijo a prestação de contas dos políticos e quero que cada um deles trabalhe por amor. Por isso, receberão, por mês, um salário mínimo e com este valor irá pagar seus próprios ternos, carros e aluguel e sua assistência médica. Não somo obrigados a pagar por mordomias de jovens que se aposentam após o mandato, ainda fortes para contribuir com o país. A reforma deve começar de cima. A limpeza será feita, mas começando pelo Congresso. E que o presidente da República jamais tenha o poder de pedir o fim das nossas conquistas trabalhistas e sociais. E que ele se aposente aos 90 anos, mas no cargo que ocupa atualmente, pelo amor de Deus.