quinta-feira, 11 de maio de 2017

Jacaré estragado! Urgh!!

Eu comecei a trabalhar ainda na infância, ajudando o meu pai na marcenaria, fazendo e consertando móveis, sem receber nada por isso. Todo o dinheiro arrecadado com o serviço era utilizado em nossa casa para pagar as despesas, que já naquela época eram tão altas. Nossa família era grande e muitas bocas deveriam ser alimentadas, por isso eu e meus irmãos acabamos vivenciando tantas dificuldades financeiras. Já na juventude, mal tínhamos dinheiro para um cinema com as meninas, e para passar o tempo íamos fazer o footing na igreja matriz de Divinópolis, indo e voltando, trocando olhares com as meninas mais bonitas da cidade. Raramente a paquera dava lucros maiores do que isso, mas há algumas décadas, o flerte era o que existia de mais ousado!
E eu fui muito namorador. Com aparência de alemão - loiro e olhos azuis - eu conquistava muitas garotas e cheguei a sair com algumas delas. E nem as primas escapavam, embora eu não as desrespeitasse. Me lembro de uma, morena, sobrinha distante do meu pai, que se engraçou por mim. Ela permitiu que eu avançasse o sinal um pouco, mas ficou só nisso, porque ela era virgem e eu não queria me casar, mas apenas curtir, como dizem hoje em dia. Ela então tomou raiva e alguns anos depois se casou com um homem bem mais velho do que ela, e não sei se foi feliz. 
Neste teretetê, acabamos nos decepcionando quando ficamos perto da menina com quem paqueramos na praça, sendo que geralmente elas andavam em duplas ou em grupos. Certa vez me engracei por uma beldade, baixinha, mas com curvas de deixar um rapaz louco de paixão. Após sorrisos e olhares a convidei para assistir um filme e ela aceitou. Marcamos um encontro em frente ao cinema e não deixei perceber as moedas que contei para pagar as entradas. Tímida, ela apenas sorria para mim e fazia uma carinha de inocente, mas que conhece as artimanhas da sedução, eu enlouqueci e tudo o que eu sonhava era lhe beijar e isso demorou. Até que o lanterninha nos deixou em paz e me arrisquei a lhe beijar. Foi quando eu arrependi enormemente. A menina tinha um hálito horrível, um cheiro de jacaré estragado, e ao menor sinal de encostar os seus lábios aos meus, ela me agarrou tanto que custei a sair. Sem ar, comecei a fazer sinal para ver se alguém me salvava daquela situação.Rapidamente o fiscal (lanterninha) chegou, bateu em minha perna e nos mandou sair, que ali era lugar de respeito! Me senti aliviado.
Do lado de fora do cinema, a garota se sentiu constrangida e vergonhosa por ter sido tão atirada e me pediu desculpas. Só fiz um sinal de que estava tudo bem e fomos andando em direção à casa dela. No meio do caminho ela conversava, conversava e conversava. Eu ficava calado, mudo, mal acreditando naquele encontro fatídico. O negócio ficou ainda pior quando ela deixou claro que seu pai era um chefe do Tiro de Guerra e muito ciumento, que faria qualquer homem se casar com ela, ao menor sinal de abuso (no caso, beijo já era perigoso)! Fingi não temer e a deixei no portão. Eu estava louco para me livrar daquela moça que além do mau-hálito, poderia complicar a minha juventude com um compromisso que eu não queria. Quando me despedi agradecendo a tarde ao seu lado, a garota se virou e tentou me beijar novamente, uma ousadia naqueles anos 50. Mas o que me arrepiava era seu bafo desagradável. Sem saída, fingi que escorreguei e me apoiei numa pedra. Minha calça (a única que eu tinha, de tergal!) rasgou no joelho e teve que ser inutilizada. Fiquei chateado, mas pelo menos me safei daquele beijo. E prometi que da próxima vez, só sairia com outra garota, após uma longa conversa, para me certificar de seu hálito!


Abraços 

Paulo José

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